Não partindo dos avanços e da importância - indiscutivel - de Kolontai, mas analisando um trecho de seu livro, 'A nova muher e a moral sexual', onde repito, traz historicamente diversas analises importantíssimas para o feminismo que de forma alguma quero contrapor agora. Lê-se, página 40 da edição da Expressão Popular:
"Em primeiro lugar, a sociedade terá que se acostumar a reconhecer todas as formas de união entre os sexos, mesmo que estas se apresentem diante dela com contornos novos e desconhecidos. Mas sempre que se correspondam a duas condições: que não ofereçam perigo para a espécie e que o seu fator determinante não seja o jugo econômico. O ideal continuará sendo a união monogâmica baseada num amor verdadeiro, porém sem as características de invariabilidade e indissolubilidade. A mudança será tanto mais evitável quanto mais diversa for a psicologia do homem. O concubinato ou monogamia sucessiva será a forma fundamental do matrimônio. Porém, ao lado desta relação sexual existe toda uma série de diversos aspectos de uniões amorosas sempre dentro dos limites da amizade erótica".
A questão de gênero e a discussão homoafetiva, mais uma vez é abandonada pelos personagens revolucionários. Nem Trotsky, nem Kolontai, e eu pelo menos não conheço nenhum bolchevique que discusse. É importante caracterizar, mas também lembrarmos que a organização LGBTT, é pelo menos hoje encarada, com Stone Wall em 1969, isto é, 42 anos após a tomada do poder na Russia. Mesmo assim, quando os bolcheviques tomaram o poder, foi instalado leis que garantissem a igualdade entre as relações homoafetivas perante a relação heterossexual.
O que de fato quero me centrar, com mais precisão, é a ideia da monogamia como continuar sendo o "ideal". Vejo, que Kolontai, vê a amizade-erótica ou amor-jogo como uma forma de aprendizagem do amor, onde você consegue aprender a se desvinciliar do ciúmes, do sentimento de posse, das relações utilitaristas, etc, em contra ponto a isso, traz também a visão evolutiva que dessas amizades-eróticas, uma delas evoluirá para um "amor verdadeiro", isso é, uma relação monogamica - distinta da monogamia patriarcal burguesa, pilar da opressão da mulher.
Se por um lado, é progressista, proque acredito que a monogamia, por si só, não é reacionária, no sentido de em si, precisar ser abolida definitivamente. Encaro de forma completamente oposto. Encaro que a monogamia, é parte de um periodo, onde as pessoas escolhem pirar uma na outra, exclusivamente. É bastante ligado ao descobrimento do parceiro, a excitação dos corpos, a paixão no seu nivel mais intenso, entre outras coisas. Encaro-a até mesmo como positiva em diversos aspectos. No entanto, vejo a sua superação, no amor-camaradagem, nas amizades-eróticas, nas relações mais profundas sem diferenciação e sem a presença da monogamia, que de forma perpetua - apesar de ainda ser uma escolha, e eu mesma precisar falar por mim apenas - traz uma exclusão do casal perante a sociedade. Por mais que estes consigam se manter como individuos independentes, tendem a compartilhar e desenvolver seus valores mais intimos e de mais importância para sua vida, dentro dessa bolha. Que por um periodo, eu enxergo como positivo, mas a longo prazo, vejo limites bastante concretos.
Descendo um pouco mais a terra, um casal monogamico regulariza sua relação sexual, mas não só, também regulariza suas emoções e determina o que é autorizado fazer (já que sentir, não é algo racionalizado). A dominação em primeiro do corpo, mas quando esse limite é ultrapassado, demonstra-se ser uma dominação mais profunda, a dominação do pensamento, dos sentimentos, da subjetividade, das vontades, etc.
Não me satisfaz a monogamia, apesar dela trazer imensa segurança e conforto. Não me satisfaz, porque vejo o limite em negar o todo e priorizar uma relação, que está ligada ainda com uma forma de dominação e uma forma de "abrir mão" da liberdade.
Se é certo que a liberdade nos dá o direito de abrir mão dela também, mantenho minha postura em reivindicar o direito a monogamia, mas politicamente e pessoalmente defendo a sua superação.
O que retomo na Kolontai,e que antes me parecia apenas um limite, hoje compreendo que é também uma posição política. Não só defendida por ela, mas também por diversas pessoas. O que se pra mim, é bastante atrasado, tem a lógica inversa para estes. Onde o amor-camaradagem e a amizade-erótica não são imorais, problemáticas, reacionárias, mas manter-se nelas, seria não avança para um amor verdadeiro.
Não vou entrar num debate - mas o cito para evitar futuros oportunismos ou mesmo desvio da discussão - sobre como as relações abertas são ou não um progresso. Sobre isso digo apenas, que as relações, de nada avançam, se a abertura é do corpo. Abrir uma relação monogamica, precisa significar, abrir individualmente os dois que compõem essa relação para uma nova forma de lidar com o mundo externo. Continuarem mantendo uma relação próxima e que se fortalece cada dia mais, mas libertando-se do "pecado da traição", que só existe, na monogamia. Mas as relações abertas, precisam ir para além disso, para além da liberdade em se relacionar com outras pessoas. Precisa ser a abertura da mente para outras perspectivas. Tirar o amor (romântico) do primeiro plano, como essêncial da vida.
Como diria nossa querida revolucionária, Kolontai:
"Esta educação é uma causa dos corações destroçados, das mulheres desesperadas, que se afogam na primeira tempestade. É preciso que se abram para a mulher, as múltiplas portas da vida. É preciso endurecer o seu coração e forjar a sua vontade. Já é hora de ensinar à mulher a não considerar o amor como a única base de sua vida e sim como uma etapa, como um meio de revelar o seu verdadeiro eu. É necessário que a mulher aprenda a sair dos conflitos do amor, não com as asas quebradas e sim como saem os homens, com a alma fortalecida. É necessário que a mulher aceite o lema de Goethe: “Saber desprezar o passado no momento em que se quer e receber a vida como se acabasse de nascer”. Afortunadamente, já se distinguem os novos tipos femininos, as mulheres celibatárias, para as quais os tesouros que a vida pode não se limitam ao amor".
"Em primeiro lugar, a sociedade terá que se acostumar a reconhecer todas as formas de união entre os sexos, mesmo que estas se apresentem diante dela com contornos novos e desconhecidos. Mas sempre que se correspondam a duas condições: que não ofereçam perigo para a espécie e que o seu fator determinante não seja o jugo econômico. O ideal continuará sendo a união monogâmica baseada num amor verdadeiro, porém sem as características de invariabilidade e indissolubilidade. A mudança será tanto mais evitável quanto mais diversa for a psicologia do homem. O concubinato ou monogamia sucessiva será a forma fundamental do matrimônio. Porém, ao lado desta relação sexual existe toda uma série de diversos aspectos de uniões amorosas sempre dentro dos limites da amizade erótica".
A questão de gênero e a discussão homoafetiva, mais uma vez é abandonada pelos personagens revolucionários. Nem Trotsky, nem Kolontai, e eu pelo menos não conheço nenhum bolchevique que discusse. É importante caracterizar, mas também lembrarmos que a organização LGBTT, é pelo menos hoje encarada, com Stone Wall em 1969, isto é, 42 anos após a tomada do poder na Russia. Mesmo assim, quando os bolcheviques tomaram o poder, foi instalado leis que garantissem a igualdade entre as relações homoafetivas perante a relação heterossexual.
O que de fato quero me centrar, com mais precisão, é a ideia da monogamia como continuar sendo o "ideal". Vejo, que Kolontai, vê a amizade-erótica ou amor-jogo como uma forma de aprendizagem do amor, onde você consegue aprender a se desvinciliar do ciúmes, do sentimento de posse, das relações utilitaristas, etc, em contra ponto a isso, traz também a visão evolutiva que dessas amizades-eróticas, uma delas evoluirá para um "amor verdadeiro", isso é, uma relação monogamica - distinta da monogamia patriarcal burguesa, pilar da opressão da mulher.
Se por um lado, é progressista, proque acredito que a monogamia, por si só, não é reacionária, no sentido de em si, precisar ser abolida definitivamente. Encaro de forma completamente oposto. Encaro que a monogamia, é parte de um periodo, onde as pessoas escolhem pirar uma na outra, exclusivamente. É bastante ligado ao descobrimento do parceiro, a excitação dos corpos, a paixão no seu nivel mais intenso, entre outras coisas. Encaro-a até mesmo como positiva em diversos aspectos. No entanto, vejo a sua superação, no amor-camaradagem, nas amizades-eróticas, nas relações mais profundas sem diferenciação e sem a presença da monogamia, que de forma perpetua - apesar de ainda ser uma escolha, e eu mesma precisar falar por mim apenas - traz uma exclusão do casal perante a sociedade. Por mais que estes consigam se manter como individuos independentes, tendem a compartilhar e desenvolver seus valores mais intimos e de mais importância para sua vida, dentro dessa bolha. Que por um periodo, eu enxergo como positivo, mas a longo prazo, vejo limites bastante concretos.
Descendo um pouco mais a terra, um casal monogamico regulariza sua relação sexual, mas não só, também regulariza suas emoções e determina o que é autorizado fazer (já que sentir, não é algo racionalizado). A dominação em primeiro do corpo, mas quando esse limite é ultrapassado, demonstra-se ser uma dominação mais profunda, a dominação do pensamento, dos sentimentos, da subjetividade, das vontades, etc.
Não me satisfaz a monogamia, apesar dela trazer imensa segurança e conforto. Não me satisfaz, porque vejo o limite em negar o todo e priorizar uma relação, que está ligada ainda com uma forma de dominação e uma forma de "abrir mão" da liberdade.
Se é certo que a liberdade nos dá o direito de abrir mão dela também, mantenho minha postura em reivindicar o direito a monogamia, mas politicamente e pessoalmente defendo a sua superação.
O que retomo na Kolontai,e que antes me parecia apenas um limite, hoje compreendo que é também uma posição política. Não só defendida por ela, mas também por diversas pessoas. O que se pra mim, é bastante atrasado, tem a lógica inversa para estes. Onde o amor-camaradagem e a amizade-erótica não são imorais, problemáticas, reacionárias, mas manter-se nelas, seria não avança para um amor verdadeiro.
Não vou entrar num debate - mas o cito para evitar futuros oportunismos ou mesmo desvio da discussão - sobre como as relações abertas são ou não um progresso. Sobre isso digo apenas, que as relações, de nada avançam, se a abertura é do corpo. Abrir uma relação monogamica, precisa significar, abrir individualmente os dois que compõem essa relação para uma nova forma de lidar com o mundo externo. Continuarem mantendo uma relação próxima e que se fortalece cada dia mais, mas libertando-se do "pecado da traição", que só existe, na monogamia. Mas as relações abertas, precisam ir para além disso, para além da liberdade em se relacionar com outras pessoas. Precisa ser a abertura da mente para outras perspectivas. Tirar o amor (romântico) do primeiro plano, como essêncial da vida.
Como diria nossa querida revolucionária, Kolontai:
"Esta educação é uma causa dos corações destroçados, das mulheres desesperadas, que se afogam na primeira tempestade. É preciso que se abram para a mulher, as múltiplas portas da vida. É preciso endurecer o seu coração e forjar a sua vontade. Já é hora de ensinar à mulher a não considerar o amor como a única base de sua vida e sim como uma etapa, como um meio de revelar o seu verdadeiro eu. É necessário que a mulher aprenda a sair dos conflitos do amor, não com as asas quebradas e sim como saem os homens, com a alma fortalecida. É necessário que a mulher aceite o lema de Goethe: “Saber desprezar o passado no momento em que se quer e receber a vida como se acabasse de nascer”. Afortunadamente, já se distinguem os novos tipos femininos, as mulheres celibatárias, para as quais os tesouros que a vida pode não se limitam ao amor".