quarta-feira, 11 de julho de 2012

Monogamia

11 de Julho de 2012

Não partindo dos avanços e da importância - indiscutivel - de Kolontai, mas analisando um trecho de seu livro, 'A nova muher e a moral sexual', onde repito, traz historicamente diversas analises importantíssimas para o feminismo que de forma alguma quero contrapor agora. Lê-se, página 40 da edição da Expressão Popular:

"Em primeiro lugar, a sociedade terá que se acostumar a reconhecer todas as formas de união entre os sexos, mesmo que estas se apresentem diante dela com contornos novos e desconhecidos. Mas sempre que se correspondam a duas condições: que não ofereçam perigo para a espécie e que o seu fator determinante não seja o jugo econômico. O ideal continuará sendo a união monogâmica baseada num amor verdadeiro, porém sem as características de invariabilidade e indissolubilidade. A mudança será tanto mais evitável quanto mais diversa for a psicologia do homem. O concubinato ou monogamia sucessiva será a forma fundamental do matrimônio. Porém, ao lado desta relação sexual existe toda uma série de diversos aspectos de uniões amorosas sempre dentro dos limites da amizade erótica".

A questão de gênero e a discussão homoafetiva, mais uma vez é abandonada pelos personagens revolucionários. Nem Trotsky, nem Kolontai, e eu pelo menos não conheço nenhum bolchevique que discusse. É importante caracterizar, mas também lembrarmos que a organização LGBTT, é pelo menos hoje encarada, com Stone Wall em 1969, isto é, 42 anos após a tomada do poder na Russia. Mesmo assim, quando os bolcheviques tomaram o poder, foi instalado leis que garantissem a igualdade entre as relações homoafetivas perante a relação heterossexual.

O que de fato quero me centrar, com mais precisão, é a ideia da monogamia como continuar sendo o "ideal". Vejo, que Kolontai, vê a amizade-erótica ou amor-jogo como uma forma de aprendizagem do amor, onde você consegue aprender a se desvinciliar do ciúmes, do sentimento de posse, das relações utilitaristas, etc, em contra ponto a isso, traz também a visão evolutiva que dessas amizades-eróticas, uma delas evoluirá para um "amor verdadeiro", isso é, uma relação monogamica - distinta da monogamia patriarcal burguesa, pilar da opressão da mulher.

Se por um lado, é progressista, proque acredito que a monogamia, por si só, não é reacionária, no sentido de em si, precisar ser abolida definitivamente. Encaro de forma completamente oposto. Encaro que a monogamia, é parte de um periodo, onde as pessoas escolhem pirar uma na outra, exclusivamente. É bastante ligado ao descobrimento do parceiro, a excitação dos corpos, a paixão no seu nivel mais intenso, entre outras coisas. Encaro-a até mesmo como positiva em diversos aspectos. No entanto, vejo a sua superação, no amor-camaradagem, nas amizades-eróticas, nas relações mais profundas sem diferenciação e sem a presença da monogamia, que de forma perpetua - apesar de ainda ser uma escolha, e eu mesma precisar falar por mim apenas - traz uma exclusão do casal perante a sociedade. Por mais que estes consigam se manter como individuos independentes, tendem a compartilhar e desenvolver seus valores mais intimos e de mais importância para sua vida, dentro dessa bolha. Que por um periodo, eu enxergo como positivo, mas a longo prazo, vejo limites bastante concretos.

Descendo um pouco mais a terra, um casal monogamico regulariza sua relação sexual, mas não só, também regulariza suas emoções e determina o que é autorizado fazer (já que sentir, não é algo racionalizado). A dominação em primeiro do corpo, mas quando esse limite é ultrapassado, demonstra-se ser uma dominação mais profunda, a dominação do pensamento, dos sentimentos, da subjetividade, das vontades, etc.

Não me satisfaz a monogamia, apesar dela trazer imensa segurança e conforto. Não me satisfaz, porque vejo o limite em negar o todo e priorizar uma relação, que está ligada ainda com uma forma de dominação e uma forma de "abrir mão" da liberdade.
Se é certo que a liberdade nos dá o direito de abrir mão dela também, mantenho minha postura em reivindicar o direito a monogamia, mas politicamente e pessoalmente defendo a sua superação.

O que retomo na Kolontai,e que antes me parecia apenas um limite, hoje compreendo que é também uma posição política. Não só defendida por ela, mas também por diversas pessoas. O que se pra mim, é bastante atrasado, tem a lógica inversa para estes. Onde o amor-camaradagem e a amizade-erótica não são imorais, problemáticas, reacionárias, mas manter-se nelas, seria não avança para um amor verdadeiro.

Não vou entrar num debate - mas o cito para evitar futuros oportunismos ou mesmo desvio da discussão - sobre como as relações abertas são ou não um progresso. Sobre isso digo apenas, que as relações, de nada avançam, se a abertura é do corpo. Abrir uma relação monogamica, precisa significar, abrir individualmente os dois que compõem essa relação para uma nova forma de lidar com o mundo externo. Continuarem mantendo uma relação próxima e que se fortalece cada dia mais, mas libertando-se do "pecado da traição", que só existe, na monogamia. Mas as relações abertas, precisam ir para além disso, para além da liberdade em se relacionar com outras pessoas. Precisa ser a abertura da mente para outras perspectivas. Tirar o amor (romântico) do primeiro plano, como essêncial da vida.

Como diria nossa querida revolucionária, Kolontai:

"Esta educação é uma causa dos corações destroçados, das mulheres desesperadas, que se afogam na primeira tempestade. É preciso que se abram para a mulher, as múltiplas portas da vida. É preciso endurecer o seu coração e forjar a sua vontade. Já é hora de ensinar à mulher a não considerar o amor como a única base de sua vida e sim como uma etapa, como um meio de revelar o seu verdadeiro eu. É necessário que a mulher aprenda a sair dos conflitos do amor, não com as asas quebradas e sim como saem os homens, com a alma fortalecida. É necessário que a mulher aceite o lema de Goethe: “Saber desprezar o passado no momento em que se quer e receber a vida como se acabasse de nascer”. Afortunadamente, já se distinguem os novos tipos femininos, as mulheres celibatárias, para as quais os tesouros que a vida pode não se limitam ao amor".

Para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos.

11 de Julho de 2012

A maioria das relações hoje são estabelecidas pelo formato montado e arruinado da classe dominante. As relações são reproduzidas através do modelo padrão inquestionável. Tanto amigo quanto namorado são equivalentes as outras termologias de parentesco: mãe, pai, tio, tia, sobrinho, sobrinha. Todos reguladores da nossa sexualidade. O que se tem hoje ainda são os modelos de família e de relações pequeno-burguesas que já conhecemos e vivenciamos desde nosso berço. Sabemos que não nos satisfazem, a medida que nossa consciência avança, exige mais de nós mesmos e de nossos camaradas. É parte de modos de vidas comunistas, superação das relações forjadas no capitalismo. É parte de superação do que têm sido a humanidade e seus valores. É parte de um total que construiremos a partir do fim da sociedade divida em classes, de opressões, de exploração.

Se por um lado, grande parte dos amigos que perdemos se vão em relações monogâmicas exclusivistas. Por razões óbvias, a monogamia combatedora da solidão e "seguradora da maior felicidade do maior amor verdadeiro e da vida compartilhada com a pessoa que mais te amará" requer a vida exclusivista, individualismo à dois. A bolha. As quatro paredes. Esta impede uma relação mais revolucionária, porque todas as suas demais relações são determinadas pela relação estabelecida com sua companheira ou seu companheiro.

Mas todas as relações monogamicas são assim? Individualistas à dois?
Em distintos niveis, sim.

Isso, eu afirmo, pela construção dessa relação monogamica. Porque é possivel que uma pessoa, por qualquer motivo do mundo, em uma determinada época, estabeleça relação sexual apenas com um companheiro. Agora, essa relação se constrói de "eu gosto só de você"? Se ela se construir de exclusismos, que para a burguesia (e somente na sua visão perturbada) a exclusividade é equivalente á amor verdadeiro, real, superior aos demais, então ela ingendará estes desvios, ainda que em niveis distintos.

A contraposição a monogamia, para superar os limites burgueses das relações, não pode ser a poligamia ou a poliandria. Não é uma questão quantitativa de pessoas que se estabelece relação sexual. Talvez fosse - sem encarar quantitativo em contra posição a qualitativo - em relações profundas. Tão pouco pode ser encarado como uma questão de forma, é exclusivamente uma questão de contéudo, que diferencia as relações revolucionárias das relações pequeno-burguesas degeneradas. A prioridade dada à quem divide e oferece prazer sexual é uma contradição que a monogamia não pode superar. É a contradição da sexualidade exclusivamente presa vida privada. É a capacidade de amar, de entregar-se, de gozar (tanto no sentido sexual quanto nos outros que nos realizam), de chorar, de dar e criar intimidade para dentro de um quarto, que depois se tornará um assunto velado. E se o sexo é feito, entre camaradas, sem uma relacionamento "tradicional" - isso é, de namoro - então deve ser esquecido. E se não puder ser esquecido, ao menos, silenciado.

Mas para analisarmos isso atualmente, peguemos como parametro o cinema, que Trotsky em Questões do Modo de Vida dizia ser uma das ferramentas mais revolucionárias que tinham sido criadas, pela sua facilidade de compreensão e grande capacidade de introzamento e divertimento. Atualmente, utilizado para expor a degenerada moral burguesa e sua realidade pouco conhecida, apesar de incentivada ao desejo de tê-la, pela classe trabalhadora. Se pegarmos os exemplos de filmes do diretor Woody Allen, onde Vick Cristina Barcelona, impacta uma juventude que é criada na visão única de relação a dois. Porém, o que é preciso se atentar é que estes filmes cumpre dois papeis importantíssimo. Em primeiro lugar, é preciso identificarmos a necessidade da burguesia em dialogar com os desejos e prazers bissexuais e por fora da relação monogamica - no caso ainda, de casamento formal, igreja e etc. A segunda é ainda mais determinante: o limite de aceitação para tais condutas.

A burguesia menos conservadora - aqui exclui-se entre estes, os fundamentalistas religiosos - expõe essas outras possibilidades de relação, com o objetivo de impor os limites. Pode. Mas só enquanto for juventude, depois é preciso crescer. E depois que crescer, é preciso achar alguém para dividir a vida eternamente. O que eu estabeleceria um paralelo, com bastante cautela, com minha crítica a Kolontai[1].

O individualismo de época que tanto na estratégia - como o autonomismo -, mas como para dentro das relações e o modo de vida precisa ser superado. Este, por si só, impõem valores anti-operário (com a divisão da classe trabalhadora) e um erro em pensar que é possivel viver isolado, não encarando o ser humano como um ser social. 
A realidade de hoje impõem o marxismo como método de análise se quisermos avançar nas transformações estruturais, isto é, o materialismo histórico e dialético é fundamental na busca por uma estratégia para vencer, capaz de derrotar a burguesia e seu regime de exploração. Porque somente assim, com o fim da desigualdade social e consequentemente a divisão de classes, que é possivel pensarmos no fim das relações utilitaristas e de posse.

É nesse momento que as relações individualistas acabam cumprindo um papel alienador. Quando a subjetividade voltada a vida privada, a vida dividida a dois, ganhe mais foco e atenção do que os acontecimentos internacionais que determinam o futuro de nossa classe (até mesmo, de continuarmos dividos em classe).

Hoje quando a juventude tem protagonizado os primeiros levantes, nos países imperialistas contra a crise, e nos países perifericos, contra os regimes, é importante ligar as questões mais intimas com a busca na história de lições e erros para não oferecer a burguesia a chance de despejar a crise sobre nossas costas e impor mais uma derrota ao proletariado. Tão somente pela traição das direções quanto por seus erros que abrem-se possibilidades para os grandes capitalistas fugirem do que os aguarda, nossa revolução.

Atenção, jovens.
Somos nós a caixa de ressonância que avisa a abertura de novos tempos. Somos nós, o prólogo que indica o despertar da classe trabalhadora após trinta anos de ideologia de fim da história, fim da classe operária e a ideia de capitalismo a de eterno.
Sejamos mais. Sejamos a aliança com a classe trabalhadora e seus fieis dirigentes que juntos colocaremos a burguesia no seu devido lugar: o passado. 
Para assim então libertarmo-nos das figuras libertárias de relacionamentos que de fundo são grandes  negócios para a burguesia. A mais libertária forma de se relacionar é, sem dúvidas, a forma capaz de permitir que o individuo se relacione constantemente consigo mesmo e com a natureza, a qual os seres humanos constrói.

As relações partem de uma outra perspectiva, que não se pode ter hoje, dentro do capitalismo, pois é uma forma de se relacionar com a vida distinta. Sem divisão de classes, sem opressão e sem termologias para regulamentarizar. Sem a ideia de sexo padrão, sem a concepção de relação de poder entre gêneros e mais importante, relações sem influencia econômica.

[1] É com muito cuidado com estabeleço essa similaridade, pois a Kolontai era uma revolucionária. Uma das mulheres mais importantes que a historia já teve que junto de outras lutadoras impulsionaram as primeiras teorias e regastes históricos sobre a sexualidade e a opressão da mulher. Mesmo assim, me esforço no combate à visão de que o amor-camaradagem (e para a burguesia, a época de "viver a vida enlouquecidamente" seja um estágio primário que tenha de ser superado. Não encaro a monogamia como sua superação, pelo contrário. Texto completo em: http://caminhodeovos.blogspot.com.br/2012/07/monogamia.html

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Breves.

9 de Julho de 2012

Tempo para amar. 
É preciso lutar por relaçoes mais profundas. O amor exige tempo. As relações exigem uma outra educação, a classe operária e os revolucionários ainda amam pouco. Ainda vivem pouco. Ainda dizem pouco. O capitalismo nos fez e nos educou assim. Nos tirou a voz e o tempo para amar e ser amado.

Sem dúvida que sem a revolução socialista, será imposivel mudar as relações. Ou extinguir a homofobia, o racismo e o machismo. Mas ela tão pouco, sozinha, irá nos emancipar. O modo de vida têm que mudar, e precisa ser impulsionado por nós, em cada luta, em cada prática militante, em cada expressão. Desde já.
Porque é disso que nos fortaleceremos, é disso que nos moralizamos, é disso que nos torna mais coerente com o mundo e o futuro que nos pertence!



Amor para muito além, amor que precisamos. 
A indiferença como parte do individualismo burguês, que pouco vê, pouco se tensiona a se preocupar, divide ainda mais a nossa classe. É pequeno burguês, mesquinho e de um tamanho desprezo, aqueles e aquelas que assumem como personalidade ou como estilo de vida, o deslexo, a falta de preocupação e consebe pra si a idéia de felicidade dentro da bolha monogamica. Não há emancipação no individualismo à dois. Também não há, no relacionamento aberto, porém não livre.

O amor ainda será muito mais do que mera relação economica. E muito além do que mera paixão destinada a posse e a repartição de vivências, conhecimento e particularidades ao companheiro a qual se tem relações sexuais.

*
Adiante.

Não confie em alguém que reduz a luta pela emancipação da humanidade, do amor-camaradagem sincero, por um novo modo de vida - comunista, por uma sexualidade mais libertária e mais satisfátoria, por uma luta "estética" e/ou "para conseguir transar".

Estes, companheiras, são - em maioria - os homens, mesmo que comunistas revolucionários, (mas infelizmente, algumas de nós também defenderam isso, por outros motivos evidentemente) que mantêm-se confortavelmente pisando sobre nossos corpos e nossa liberdade.

Não desistamos, companheiras. Nem demos a eles crédito ou voz. Porque seremos nós, e somente nós mesma, capazemos de nos emancipar.