Todos os sonhos
São humanos
Mas os desejos talvez
Não sejam para todos
A nossa solidão das mulheres trans
Não se resume a falta de alguém
A negação da vida e do afeto
Aprofunda o desespero
Me afastar, então, cada vez mais
Me reconstrói, na busca de me encontrar
Me ergo sob minhas próprias convicções
Já com os pés no chão, recobro a aquela auto-proteção
Sob as possíveis condições
Me refaço, me desfaço
Já não confio nas palavras
Vazias como a relação perdida
Sem ações concretas, buscas ou esperas
Nessa contradição permanente
O que sou?
Me recuso a ser apenas falta
Atingiu em cheio
Ao teu lado, cada vez mais mulher
E menos eu mesma, capaz de me reinventar
Presa em comprovar, em confirmar
Pouco livre pra ser e me sentir bem
Binária, pra não te perder
Me perdi
A ti faltou coragem
Educado a reproduzir a ordem
"Gosto" naturalizado
Quem se atreve a gostar de mal olhado?
Não há consideração
Tentei preservar algo
Mas que relação?
A melhor relação que tive
Foi a que não tive
Estranho, mas muito pouco
Natural não questionar o próprio gosto
Meu corpo em transformação
Vida ou morte, falsa polarização
A sorte dos sonhos
Depende da Revolução
E todo fim de noite
Antes de dormir
Vejo uma nova o oportunidade
De me reconstruir
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