Poderia ser mais fácil, para lidar com o coração quebrado, culpar o outro e não buscar em mim os meus erros. Eu sou sujeito e logo responsável pelas minhas escolhas e frustrações. Errei, porque levo meu corpo a extremos e minha dignidade de forma insustentável. Aceito passivamente a miséria e a separou do meu combate cotidiano para a revolução em todos os níveis. Tenho uma dupla moral que conscientemente quero destruir a partir de hoje. Se sou forte combatente, se me fortaleço do ódio para não sucumbir ao capitalismo, se não me deixo vencida, não me aceito como vítima. Meu corpo preso a uma harmonização castradora, anti-sexo e nada emancipadora. Minha mente enlouquecida pela opressão, pela disforias sociais, pelo perigo constante não justificam. Meu maior erro foi não levar até o fim a concepção marxista de que a história não se repete. Não poderíamos ser o que já fomos, se já se transformou e mesmo se distanciando cada vez mais do que preciso, aceitei como mínimo. Errei achando que sim, poderia me realizar a sua maneira. Mas não havia como e não me deter, foi insistir no labirinto. Em me perder e conscientemente me afogar, depois de já prender a respiração por toda as demais opressões que sinto, no corpo e na alma. Escrevo, e desabafo. Quero aprender, comigo mesma, já que você nem se quer quis me ajudar a avançar nos meus problemas. Vejo e te acuso não apenas de machista, transfobia, mas de egoísmo capitalista. Mas não me cego, seus erros não justificaram os meus. E se fui até o chão, fui pra sentir você e desse sentimento tentar me fazer mais humana, já que o mundo, o cotidiano, o dia a dia, me desumaniza a cada olhar estranhado, riso contido ou provocado e sonhos nunca realizados.
Quero um companheiro? Queria um camarada, a paixão vinha se transformando. Mas era uma dependência que nunca pude explicar. Em meio a castração química, em meio as dores no corpo e a constante disforia, era teu corpo sobre o meu o que me tranqüilizava e no suspiro, no suor ou nas marcas que depois me atormentaram, tinha certeza que estava viva. Como me deixei ir tão longe? Miséria absoluta. Sexual, moral e das relações. Nunca tivemos uma relação, independente de quantas vezes me comeu. De quantas vezes marcou meu pescoço, sem se importar. De quantas vezes me abraçou, me beijo de forma lenta, dormimos juntos e sob seu peito respirei aliviada.
Sim, estive apaixonada. Como te contei, (não sei porque escrevo ainda em diálogo contigo, se nem é meu amigo e nem lera este suspiro), de agosto a fevereiro, não deixei por um dia. Disse uma vez, eu te amo, enquanto estava dentro de mim. Não acreditou. Que bom!
Meus erros me fortaleceram hoje, que como revolucionaria posso tirar lições. Não te agradeço por isso, porque você não contribui para me reeguer, mas pela queda. Então, já era.
De agora em diante, aprendo com Clausewitz como cuidar do meu coração. É uma guerra, que não acredito que se possa vencer, mas as batalhas, de todas, vou me fortalecer.