sábado, 27 de fevereiro de 2016

Transparente

Não aparece
Caminho, de forma invisível
Sempre sozinha, naturalmente
Me diluo permanentemente
Com meu coração partido
Fechado a novos amigos

Riso momentâneo
Abafa o pranto, engole o choro
Ser forte, até quando?
Evapora a esperança
Uma vida ainda que plena de sentido
Carrega a dor do passado e presente sofrido

Jogaria meu corpo fora
Descartaria o sufoco
Dane-se se despeço ou abandono
Mas ainda não me dei por vencida
Vida e morte, escolha doída
Nenhuma das duas satisfaz
Quero mais
O sonho de experimentar
O dia da alegria
A festa dos oprimidos
A revolução socialista

Chegaremos?

Desperdício

Minha cabeça
Não para
O corpo se sustenta
Por um fio
E sempre que ouço sua voz
O coração bate
De frente
E diz pra eu voltar

Minha cabeça não encontra descanso
Está sempre moringando
Meus olhos já sem lágrimas
Não parecem menos cansados
Sorrio
Pelo menos por esse momento
Que venha outros
Suspiro
Alivio

Meu corpo
Que desafio
Tentar ser no concreto
Mais do que desperdício

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Meus erros

Poderia ser mais fácil, para lidar com o coração quebrado, culpar o outro e não buscar em mim os meus erros. Eu sou sujeito e logo responsável pelas minhas escolhas e frustrações. Errei, porque levo meu corpo a extremos e minha dignidade de forma insustentável. Aceito passivamente a miséria e a separou do meu combate cotidiano para a revolução em todos os níveis. Tenho uma dupla moral que conscientemente quero destruir a partir de hoje. Se sou forte combatente, se me fortaleço do ódio para não sucumbir ao capitalismo, se não me deixo vencida, não me aceito como vítima. Meu corpo preso a uma harmonização castradora, anti-sexo e nada emancipadora. Minha mente enlouquecida pela opressão, pela disforias sociais, pelo perigo constante não justificam. Meu maior erro foi não levar até o fim a concepção marxista de que a história não se repete. Não poderíamos ser o que já fomos, se já se transformou e mesmo se distanciando cada vez mais do que preciso, aceitei como mínimo. Errei achando que sim, poderia me realizar a sua maneira. Mas não havia como e não me deter, foi insistir no labirinto. Em me perder e conscientemente me afogar, depois de já prender a respiração por toda as demais opressões que sinto, no corpo e na alma. Escrevo, e desabafo. Quero aprender, comigo mesma, já que você nem se quer quis me ajudar a avançar nos meus problemas. Vejo e te acuso não apenas de machista, transfobia, mas de egoísmo capitalista. Mas não me cego, seus erros não justificaram os meus. E se fui até o chão, fui pra sentir você e desse sentimento tentar me fazer mais humana, já que o mundo, o cotidiano, o dia a dia, me desumaniza a cada olhar estranhado, riso contido ou provocado e sonhos nunca realizados.

Quero um companheiro? Queria um camarada, a paixão vinha se transformando. Mas era uma dependência que nunca pude explicar. Em meio a castração química, em meio as dores no corpo e a constante disforia, era teu corpo sobre o meu o que me tranqüilizava e no suspiro, no suor ou nas marcas que depois me atormentaram, tinha certeza que estava viva. Como me deixei ir tão longe? Miséria absoluta. Sexual, moral e das relações. Nunca tivemos uma relação, independente de quantas vezes me comeu. De quantas vezes marcou meu pescoço, sem se importar. De quantas vezes me abraçou, me beijo de forma lenta, dormimos juntos e sob seu peito respirei aliviada.

Sim, estive apaixonada. Como te contei, (não sei porque escrevo ainda em diálogo contigo, se nem é meu amigo e nem lera este suspiro), de agosto a fevereiro, não deixei por um dia. Disse uma vez, eu te amo, enquanto estava dentro de mim. Não acreditou. Que bom!

Meus erros me fortaleceram hoje, que como revolucionaria posso tirar lições. Não te agradeço por isso, porque você não contribui para me reeguer, mas pela queda. Então, já era.

De agora em diante, aprendo com Clausewitz como cuidar do meu coração. É uma guerra, que não acredito que se possa vencer, mas as batalhas, de todas, vou me fortalecer.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A vida é ridícula

Capitalismo
Tudo o que toca
Apodrece
Sentir?
Viver?
Esquece

Fui até o fim
Viver como dizem
Cada oportunidade
Agradecer os momentos bons
E curar o coração dilacerado também

Mas a vida não é vida de verdade
Sobrevivente não tenho forças pra me render
Mas em questão de segundos
O que lutamos pra ser
Se desfaz, Kayla se foi
E não vai voltar

Mas em questão de segundos
A polícia confunde e mata como extinto
O preto, a favelada, a travesti como inimigo
E a maioria de nós: ficamos mudos
Parece não fazer sentido
E não faz

A vida é ridícula
Não aceitemos vive-la assim
Quando toco outro corpo
Sinto ainda mais necessidade de gritar
Não aceitemos viver como nos impõem

Nem por um segundo
Me escuta,
Se tomamos ela em nossas mãos
Transformamos os sonhos em pedras
Atira alto e transforma de novo
A vida em vida
Por favor

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Beco


Não procurou ajuda
Não havia forças pra novas desilusões
Consciente da estrutura
Foi vencida depois de tantas torturas
Suicidio assassino
De um responsavel coletivo
De uma sociedade dominada
Por uma burguesia canalha
Lagrimas de Kayla
Lagrimas de quem chora
E não desabafa
Lagrimas de Kayla
São também as minhas
Incontáveis...
Mais uma companheira derrubada
Quantas Kaylas amais teremos em nossa estrada?
Diziam 35 anos, mas nada disso
Morremos por dentro muito antes
Parece um beco sem saída
Não ameniza, não tranquiliza
Há então uma única perspectiva
Transformar a dor em ódio
Virar o tangue contra nossos opressores
Se sobrevivemos a cada dia
É por Kayla e por todas nossas feridas
É por uma nova sociedade sem transfobia
É para mudar a história
E não aceitar essa vida