quarta-feira, 25 de maio de 2016

Diga algo

Não quero ser aquela
Que tem me assombrado
Sempre carregando partes
De um ser profundamente incomodado
Não quero ter vergonha
Nem sentir pedindo desculpa
Se não me fiz clara
Não quero ser fraca

Não quero não incomodar
Viver com a ilusão
Que a vida é só deixar passar
Que um dia cura, cicatriza, se desfaz
Não sei respirar fundo
Controlar os impulsos
Fazer do segundo um momento amais

Diz alguma coisa
Mesmo sem saber
Meu corpo chora e eu desisto de conter

Quem dera
Houvesse
Chance
Uma gota que fosse
De vida
Para
Poder
Te encontrar
Num beijo

Quem
Dera
Houvesse
Esperança
Uma gota que fosse
De confiança
Para
Poder
Existir
Além da dor

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Camará

Nosso amor
Sem dúvidas
Não é novo
Nem pouco
Vive se transformando
Antes era espontâneo
Agora vive ansioso

Estamos sempre pelo caminho
Sem precisar determinar um destino
Nossos corpos tão passageiros
Se cruzam bem devagarinho
O tempo não corre
Também não tem porque
Estamos bem

Surpresa
Te vejo cada vez mais belo
Penso, logo te quero
Não precisa me beijar o tempo todo
Mas espero
Não precisa pegar na minha mão
Mas fique
Por vontade
Porque quando deito no teu peito
Me abraça pelas costas
Ou beija minha boca
Quero
Mais que tudo
Carregar comigo
Um pedacinho
Do teu sorriso

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Destempo

Riso
Congelado
Não parece mais disfarçar
O tempo
Passado

Imagem
Fotografia cerebral
Não parece, mas fortalece
O tempo
Pra não deixar-me indiferente

Independente
Desses dias frios
A chuva trouxe meu peito
Não mais tão cheio
Calmaria...
Quem dera pudesse me acostumar

Do silêncio
Faço um novo pensamento
Se vai ou fica
Não muda mais...
Foi bom te ver
Tanto quanto
Não mais

domingo, 15 de maio de 2016

Des

desses, espero
Amanhã
Me des...
             Esperar
Sem desespero
Dessa vez
Se des-espero
Não me canso

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Descoberta

Não choro mais
Já ouvi outra vez
A intenção não é magoar
Mas não posso ser amada

Triste descoberta
Transfobia revela
Ainda é mais forte
Não mais que eu
Que me fiz
Com e sem armadura
Quem ninguém quer estar no lugar
Mas respeita, como sobrevivente

Sorrisos
Ah, esses meninos
Tão bonitos e tão sozinhos
Impossíveis de penetrar
Mais fácil é aceitar o que podem dar
Ser for miséria demais
Vou me embora

Uma hora
A gente se engana de novo
Que tudo será diferente
Quem sabe
Encontre uma nova canção
Tudo para não sentir tão inútil
Esse meu coração
Que insisti sempre em entregasse só

Anoitecer



Cheio de ovos
Caminho, ora insegura
Ora você segura minha respiração
Que alívio!
Es um caminho
Que não tenho pressa
Quero passar devagarinho
Mas lembro
Que es passarinho
Sempre sozinho,
Voa, construindo caminhos
Fazendo assim teu destino
Tão bonito
Quanto teu sorriso
Que me faz sorrir também
Mas não esqueço
Que sou parte
Mas não completo
Sou tua apenas por reflexo
Te quero, mas não insisto
No que não se pode ter
Ser livre e perdido
É também o que mais gosto em você
Não posso prever
Amanhã quem sabe, quem vai dizer
Se ficou está noite, já é o bastante
Pra amanhecer

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Um traço

O dia todo esteve presente: sorriso, fumaça e este par de olhos que penetram assim como o conjunto do teu corpo o faz, em lugares fechados. Queria beijá-lo desde a hora que o encontrei. Dizem que é no beijo que se simboliza o amor, penso que tenho amado-o demais nesses dias, então. Essa vontade de estar junto sempre vem misturada com a vontade de ficarmos juntos. Mas como eu lhe disse à noite, o conheço, e o amo assim. Livre, passarinho, não se fez abrigo, aprendeu a ser caminho. Quero passar, então devagarinho. E por quanto puder trafegar, irei. Porque é pela maré imprevisível que te quis tão perto.

O anseio de estar junto, do beijo, produzia agonia com as idas e vindas. No fim, deitou-se atrás de mim. Que delicia senti-lo atrás de mim, com teu braço me entrelaçando e teu nariz na minha nuca. Respirava e soprava em mim um pouco do teu charme. Mas subitamente senti o desespero de que poderia ser minha aceitação da miséria, o que só se respondia pela necessidade de me impor para preservar o orgulho que custei a adquirir com os outros cortes que fiz no coração. Levantei-me, fumei um careta, mas o sono não brotava. Fumei então outro. Deitava novamente e esperava que o corpo pudesse provocar alguma mensagem. Ele dormia, não via nada e nem ouvia o que eu não dizia sobre me sentir. É que apesar dele me tratar como sua igual, não seriamos nunca iguais e por isso, sempre me sentia na gangorra presa a areia. Ele, alto como era, podia ver de longe o alvo que lhe pertencia. Eu estava feliz, que ele ainda estivesse brincando no parque comigo. Não conseguia permanecer deitada, e seu toque, era de carinho, mas me trazia tristeza. Então, que ele despertou e pois seu corpo à contar-me quanto gostava de mim. Brincava de me sufocar de sensações. E a dúvida punha a se desmanchar. Ele também queria estar ali.

...

Teus olhos, se fechados, me fazem um convite. Quero estar na tua mente, agora. Quando me olha, sem piscar, sinto uma deliciosa sensação como se me visse metade eu, metade quem eu quero ser. Tuas mãos grandes já me correm pelo corpo, me fazem respirar no ritmo que teu toque quer me conduzir nessa dança. Nossos corpos nus, dizem primeiro. Teu peito quente colado nas minhas costas me abraça, tão forte quanto nós gostamos de abraços, pelados. Teus lábios vão além.  Me encostam com carinho, arranha os dentes, instiga meu corpo a transcender. Só contigo sinto que posso me deixar entregue sem deixar de ser dona de mim. Como você encaixa, me bagunça, me deixa incapaz de pensar! Então, diz. Depois que o corpo já provou, me diz o quanto não me quer magoada, que posso cobrá-lo, que não está comigo por acomodação. Alivia. Como quem prevê que as palavras trazem o complemento à melodia que nossos corpos sabem combinar.

Que bom é encontrar alguém assim pra dividir.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Insônia

Não adianta aceitar a miséria
E iludirse por mais uma noite
O sono se cessa
E o coração atingido
Volta a se sentir sozinho

Não adianta aceitar a migalha
Não podemos esquecer
Que no fundo estamos só
Sem muito saber o que fazer

Não adianta
Vir a noite
Ou fazer sol no outro dia
O tempo não alivia
Só comprova a teoria
De que não há amor
O bastante nessa vida
Que possa me preencher

Não
Adianta
Mais
Insistir
Tem hora
Que o melhor a fazer
É partir

Vai, meu bem... Procurar alguém pra amar que não sou eu

Respira, tão perto
Mas nem imagino onde está
Deitou se e saiu
Não tinha interesse em ficar

Choro contido
Numa noite sem sono
Já são três e pouco
E não vou me refazer
Que chegue logo as cinco
Que eu vá trabalhar e esqueça disso

Se já não me quer
Me deixa sentir o frio
Que me convém
Sei que é ruim
Mas ao menos decido
Que desta miséria
Eu já não compartilho
Antes só comigo
Do que só te fazendo de abrigo

Quero
Ser
Livre
Nem que pra isso
Tenha que estar

domingo, 8 de maio de 2016

"Mais amor sem dúvida, por vontade...sem favor".


Despertava de um sonho que trazia em si as angustias que conscientemente não lhe davam palavras para procurar ajuda. Era parte, pelos seus hormônios que lhe pregavam peças, com desconfianças e inseguranças que encontravam provas em sorrisos, olhares ou vestígios secretos que sua mente produzia. Mas não era só os hormônios, eram seus peitos que cresciam lentamente provocando desconfiança se seus companheiros os reconheciam e por eles poderiam se interessar. Era à seco: a dúvida se à ela o amor só poderia ser apresentado como um favor, nunca um desejo ou um sentimento sincero. A noite anterior, havia reforçado estas ideias que não lhe fugiam a cabeça. Compartilhava carinho com um amigo-companheiro, dormiam juntos, amavam-se sem paixão de namorados, mas com o desejo de se verem bem. O toque provocava mais nela, do que nele, o desejo, o anseio de alcançar um gozo que já não produzia, graças as injeções quinzenais que escolhera não abrir mão. O gozo não viria, mas talvez se realizaria mais, se pudesse provocar nele esse "atropelamento" que deixava a cabeça muito lerda para acompanhar os suspiros e as contrações do corpo. Ele a tocava, depois parava. Beijá-a, depois parava. E nela, isso provocava a dúvida, senão a beijava para não ser mal educado ou desrespeitoso. Se todo o carinho não era preocupação de não deixá-la triste ou senão cedia um pouco, também por não ter ainda voltado aquela montanha-russa que com ela não poderia ter.

Levantou-se, organizou a cama e desceu as escadas tentando encontrar sentido nas angustias que escondia dele, para não levar a relação a outra dimensão ou duvidar dele à maneira de provocar chateamentos ou mais pena, caso fosse verdade. Sabia que apesar de não haver regras estabelecidas, ele era a melhor relação que ela já teve com um homem, ainda que não fosse uma relação amorosa. Ainda assim, havia amor. E disso ela jamais duvidava. Mas tinha sido pega na sua própria armadilha, de nunca ter se proposto a vê-lo com estes olhos, e pouco a pouco, percebia que ele era alguém fácil para se entregar. E que em muitos momentos gostaria que ele a procurasse pra isso. Permitia-se transformá-lo, ele em poesia, ela em poeta. Mas era mais expectativas que já conhecia, de um sentimento e uma busca que desconhecia. Terminou o café, e na primeira xícara reconheceu que até mesmo pra ela, tinha sido muito pó e pouco açúcar. Mas condizia com suas aflições. É sempre um pouco mais amargo, do que doce.

Voltou ao quarto, já que não havia um lugar sequer que quisesse ir hoje. Acendeu um cigarro vermelho, e pensou em escrever-lhe uma carta. Desistiu antes mesmo de lembrar-se onde estavam os papeis e uma caneta que funcionasse. Ele não poderia defender-se, então ou assumiria seu desamor ou encontraria um jeito de afastar-se. Ela, acostumada com a miséria das relações, buscava se manter independente e nos dias mais tristes, não lhe recorria, porque era pior aliviar-se de pena do que segurar seu coração acelerado e sua mente confusa contra as horas que não lhe traziam sono algum. Torturava-se em guardar neste aspecto um vidro que impedisse adentrar todas essas frustrações, que já estavam abalando o resto todo. Sabia, por experiência, que não se deve entregar-se sem garantir os pés presos ao chão e o coração com algumas reservas. Do contrário, a dependência custaria mais alguns meses até separar-se das ilusões que ela mesma criava. E mesmo sem querer reproduzir seus medos das relações passadas, eles a acompanhavam e não podiam deixá-la em paz.

Lembrava-se que dos homens conhecia apenas duas reações, dos que a desejavam tanto sexualmente que não tinham mais espaço para coragem de desenvolver qualquer relação afetiva, e dos que, assim como este que lhe segurava as mãos, beijava o pescoço e lhe fazia sentir-se humana, faltava-lhe o desejo. Sempre um sentimento incompleto, ou o corpo ou a alma, e ambos nunca se encontraram. Como era difícil sentir-se bem sendo quem lutou para ser. Pensava se mandá-lo embora, ajudaria em algo e não precisava de um minuto sequer para ver que não. Mas sentia-se num beco sem saída. Talvez, esquecer-se disso tudo e aguardar o momento em que ele, pela vida, a deixasse, seria agir de maneira mais segura. Preparar-se para isso, era o que talvez fosse o mais estratégico a ser feito. Talvez depois disso, novos amores impusessem à ela outras maneiras de ver. Mas à essa hipótese, ela não mais queria pensar. Sozinha na casa, poderia encontrar-se e buscar o prazer que a dois não encontrava. Mas não podia, e sabia disso, já não lhe restava libido próprio ou o medo de se machucar nesta busca, já tiravam-lhe este anseio. Até quando? A contradição que lhe atormentava, na vida, era que responder-se negando-se ou anulando-se já contradizia sua atividade militante. Não conseguia sorrir, por aquela tarde. Os castigos secretos que denunciava em outros artigos que escrevia, marcavam nela uma dor silenciosa, vergonhosa e que preferia esconder. Guardar este homem dos seus pensamentos, era novamente separar sua vida artificialmente, mas à ela, falava coragem para mais uma batalha.

Desceu as escadas e deitou-se no chão. Que a prosa lhe trouxesse paz, pediu. Não trouxe. Mas ao mesmo registrou seu grito aqui.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Partido

Antes que novas palavras
Levem o peso do meu coração descompassado
Sinto imensamente minha solidão
Como nunca tão forte

Decidi que vou até o fim
O coração grita e se rebela
Tortura fazer se tão só
Quando o frio e o travesseiro
Esperam uma companhia que não vem
Inventei à mim mesma
Por consolo ou auto piedade
Mesmo sem dizer
Mesmo sem querer

Confusa
Coração-Bomba explode
Como nunca!
Confusa
Coração-Bomba explode
Não há fuga

Não quero ver ninguém
Não quero ser alguém
Não quero pensar além
Só conseguir respirar
Pelo menos, uma vez



Desesperada

Antes de cruzar o farol
Já te quis e decide por deixa-lo
Quero matar no peito
Mas morro sufocado
Queria que tivesse ficado
Mas meu desejo é censurado
A realidade está tão distante
Desse crime planejado
Quase um atentado
À minha estabilidade
Tão frágil

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Por não

Não exijo o amor
Também pouco sei pedir
Quero que fique
Que me ajude a descobrir
As palavras
Quis tanto não incomodar
Que me fiz invisível
Passei batido
Não deu tempo pra sentir falta
Ou me fazer sentido

Vergonha

Tenho uma bomba contrarevolucionaria
Dentro do meu peito
Cuido para que a cada toque
Escape menos verdade do que se deve

Se ao menos, pudesse me afastar
Com todo cuidado para não ser vista
Desaparecer sem ninguém notar
Graças ao não querer incomodar
A humilhação não tomaria forma
No meu rosto como agora escorrem lágrimas

Tenho uma metralhadora reacionária
Que atira em cada um dos meus amores
O meu fracasso como uma nova decepção
Se mal posso manter minha cabeça levantada
É porque conheço a verdade do que estou dizendo
Não posso mais seguir com um sorriso rosto e o coração dilacerado

Dos amores
Só pude utiliza-los ao meu egoísmo
De artificialmente me sentir mais forte
Mas se ficaram por pena ou qualquer outro motivo causado pela minha fraqueza
Fomos tão desonestos quanto nos propusemos ser

Tenho uma bomba contrarevolucionaria
No meu peito que quer explodir
Repetir todas as desculpas pra correr de tudo
Não olhar pra tras, pois causa vergonha tamanha quanto a de ficar
Seria melhor que ao explodir também transformasse em mim
Mas só pode revelar
A covardia
Que sou

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Cura

Nós dias frios
Tão difíceis de andar com as próprias pernas
Melhor não sair da cama
Invés de apoiar-se em tipos de amor
Mascaram, a dor que sinto

Minhas pernas se mantém
Não faria diferença correr
Não tem lugar que me faça esquecer
Meus braços seguem presos a mim
Indiferente porque não há abraço
Que cure o vazio da certeza que

O caminho e a consciência não vão retroceder
Exigem cada dia mais do pouco que não basto
Choro ou sem choro, me pergunto até quando
Arrasto em mim o sonho e meu fracasso
Até quando consigo escapar e me desfaço
Queria por um fim,
De uma vez