quarta-feira, 11 de maio de 2016

Um traço

O dia todo esteve presente: sorriso, fumaça e este par de olhos que penetram assim como o conjunto do teu corpo o faz, em lugares fechados. Queria beijá-lo desde a hora que o encontrei. Dizem que é no beijo que se simboliza o amor, penso que tenho amado-o demais nesses dias, então. Essa vontade de estar junto sempre vem misturada com a vontade de ficarmos juntos. Mas como eu lhe disse à noite, o conheço, e o amo assim. Livre, passarinho, não se fez abrigo, aprendeu a ser caminho. Quero passar, então devagarinho. E por quanto puder trafegar, irei. Porque é pela maré imprevisível que te quis tão perto.

O anseio de estar junto, do beijo, produzia agonia com as idas e vindas. No fim, deitou-se atrás de mim. Que delicia senti-lo atrás de mim, com teu braço me entrelaçando e teu nariz na minha nuca. Respirava e soprava em mim um pouco do teu charme. Mas subitamente senti o desespero de que poderia ser minha aceitação da miséria, o que só se respondia pela necessidade de me impor para preservar o orgulho que custei a adquirir com os outros cortes que fiz no coração. Levantei-me, fumei um careta, mas o sono não brotava. Fumei então outro. Deitava novamente e esperava que o corpo pudesse provocar alguma mensagem. Ele dormia, não via nada e nem ouvia o que eu não dizia sobre me sentir. É que apesar dele me tratar como sua igual, não seriamos nunca iguais e por isso, sempre me sentia na gangorra presa a areia. Ele, alto como era, podia ver de longe o alvo que lhe pertencia. Eu estava feliz, que ele ainda estivesse brincando no parque comigo. Não conseguia permanecer deitada, e seu toque, era de carinho, mas me trazia tristeza. Então, que ele despertou e pois seu corpo à contar-me quanto gostava de mim. Brincava de me sufocar de sensações. E a dúvida punha a se desmanchar. Ele também queria estar ali.

...

Teus olhos, se fechados, me fazem um convite. Quero estar na tua mente, agora. Quando me olha, sem piscar, sinto uma deliciosa sensação como se me visse metade eu, metade quem eu quero ser. Tuas mãos grandes já me correm pelo corpo, me fazem respirar no ritmo que teu toque quer me conduzir nessa dança. Nossos corpos nus, dizem primeiro. Teu peito quente colado nas minhas costas me abraça, tão forte quanto nós gostamos de abraços, pelados. Teus lábios vão além.  Me encostam com carinho, arranha os dentes, instiga meu corpo a transcender. Só contigo sinto que posso me deixar entregue sem deixar de ser dona de mim. Como você encaixa, me bagunça, me deixa incapaz de pensar! Então, diz. Depois que o corpo já provou, me diz o quanto não me quer magoada, que posso cobrá-lo, que não está comigo por acomodação. Alivia. Como quem prevê que as palavras trazem o complemento à melodia que nossos corpos sabem combinar.

Que bom é encontrar alguém assim pra dividir.

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