24 de Junho de 2012
Parece-me que essa discussão, quando parte daí, tem-se uma ideia pela metade. A discussão sobre abrir um relacionamento está vinculada a conceber uma nova forma de relação. Entre o casal? Talvez, seja uma nova forma de relação dos indivíduos com o mundo. Isto é, conseguir que os dois – considerando a relação aos pares, mais convencional nos dias de hoje – sejam indivíduos autônomos, não dependente um do outro, onde a relação que se constitui é livre das relações econômicas e principalmente, livre das pressões machistas, sexistas e/ou de chantagens emocionais. Livre também dessa relação determinar a vida de ambos.
Parte na verdade de encararmos as nossas vidas como projetos individuais, não individualistas, onde busquemos relações que nos façam bem e avançar. Que possamos estabelecer uma relação de troca e não – somente – de apoio. É preciso libertar-se e libertar o outro do amor burguês entrelaçado ao ciúmes, a possessividade e ao controle corporal (e para a pequena burguesia que ao corpo não se prende, o mental).
Isso não é uma defesa de orgias, sexos sem sentimentos, relações utilitaristas e fetichistas, pelo contrário, é uma defesa por relações revolucionárias. Isto é, conceber e amadurecer a ideia de que deve-se existir uma relação de camaradagem, de companheirismo, de amizade principalmente.
A monogamia é hoje – por conta da burguesia – uma forma de se relacionar preenchida de contradições e pressões incessantes. É contrarrevolucionária por essência? Eu não acredito que seja. Mas a monogamia, aqui entende-se por uma relação onde ambos desejam ficar exclusivamente um com o outro, não sentem-se oprimidos pelas limitações ai colocadas, recusam os desejos sexuais e amorosos (isto é, as paixões, a capacidade e a experiência de novas paixões, novos romances e novos amores) para manter um relacionamento, que não necessariamente precisa de todas essas limitações.
Eu, Virginia, não defendo a monogamia. Porque para mim, a discussão não se estabelece entre relacionamento aberto ou monogâmico. Para mim, a discussão parte de quem somos. Sou travesti, sou lutadora, e meu corpo e meu sexo pertencem a mim. Nenhum companheiro meu, poderá se atrever a me reprimir. Também, obviamente o respeitarei e desde cedo apresentar-me-ei como sou. Sou livre. Sou minha. Não me contenta paixões exclusivas, não me satisfaz amores platônicos. Quando Trotsky dizia que vivemos em tempos de paixões sociais, eu concordo. Mas meu grande amor, sempre foi e será, a humanidade. Esta não é singular e não cabe em um só companheiro. E nem mesmo de sexo, é preciso para se ter essas relações. Mas é preciso liberdade. É preciso existir enquanto eu, enquanto Virginia. Me entende?
Abrir ou não abrir pouco importa.
O que somos? Qual amor que construímos? Qual amor que nos permitimos sentir? Quem são nossos companheiros? Que amor tem por nós? Viveremos em relações tão mínimas e tão nucleares por mais quanto tempo?
Eu não sou dona da razão, nem sei o que é melhor para cada um. Sei que as relações monogâmicas patriarcais burguesas e a família precisam ser extintas. Defendo, sou marxista-leninista-trotskysta. Agora, pra mim? Quero me apaixonar por todos aqueles, que se levantam e demonstram que humanos bonitos são os que lutam.
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